Nota: a segunda parte do artigo será publicada para a semana.
Uma nota introdutória
Esclarecer primeiro que o tema está enquadrado numa temática maior (ver referências no final) relacionada com o desenvolvimento da Consistência e da variabilidade.
Sobre o Tema
Ainda que a inconstância de resultados tenha vindo a ser recorrente neste primeiro terço de época, o Sporting de Rúben Amorim parece-me um exemplo pertinente para reflectir sobre a complexidade que influi na Consistência, o grande objecto em análise.
Nesta primeira parte...
Nesta primeira parte, apresento como ponto de partida algumas questões: Até que ponto a Base em que assentou o Jogo do Sporting nas duas épocas anteriores teve continuidade para esta nova época?; Que grau de influência tiveram as alterações? e Até que ponto e em que momentos tem o Sporting evidenciado Consistência no seu Padrão de jogo durante este primeiro terço de época?
Iniciarei uma análise-cronologia que vai, nesta primeira parte, do pós Estoril (2 de Setembro) até Frankfurt (jogo fora a 7 de Setembro).
Comecemos...
Parte I
Uma Imagem como centro agregador
"Não estamos a ser consistentes nos resultados, mas nas exibições temos mantido um bom nível"
Rúben Amorim, 29.09.22 (conferência de imprensa pré- Gil Vicente)
Parto da premissa de que a Consistência necessita de uma presença ininterrupta da sua Macro Conjuntura. Tendo uma Imagem como centro agregador, a qual precisa, por sua vez, de ser alimentada, de ter tempo e continuidade. De braços dados com os seus intérpretes.
É o Sporting uma Equipa Consistente?
Jornalista- Mantém a convicção que a equipa, este ano, será melhor?
Rúben Amorim - Mantenho o que disse, porque faço a comparação com épocas anteriores. Este ano somos mais equipa, pois temos características diferentes. Mal seria se, mantendo a base, a equipa fosse pior. Penso ser claro que somos uma equipa mais forte, mais dominadora.
Conferência de Imprensa pré-Rio Ave 12 de Agosto de 2022 (in Jornal A Bola, 13.08.22)
Até que ponto a Base em que assentava a Dinâmica da Equipa teve continuidade para a nova época? e, em função disso, que influência isso terá no seu possível reavivar?
A pergunta É o Sporting uma Equipa Consistente? é uma questão que deverá ser situada em cada momento da cronologia.
Uma dinâmica dentro de uma (Macro) Dinâmica
Creio que houve uma (considerável) descontinuidade para esta época, dada a influência que tinham, pela sua maior qualidade e coordenação, Palhinha e Matheus Nunes na Dinâmica Colectiva.
Assim, para perceber a (des)continuidade e a decorrente influência na Consistência, é necessário olhar para as dinâmicas que envolvem os "novos" jogadores do meio campo, em termos do seu desenvolvimento, simultaneamente como causas e Efeitos de uma Dinâmica Maior.
Este entendimento será importante para perceber o capítulo-vídeo.
Jogar-se em função um do outro, dominar o quando aproximar/afastar
Um dos critérios que usarei para avaliar a Consistência tem que ver com a fluidez, com a segurança e com o controlo evidenciados no progredir (equilibradamente), condicionando o adversário e sendo capaz de o desequilibrar. Um princípio que considero ser disso possibilitador, e que usarei como exemplo, tem que ver com o saber-se quando jogar em aproximação e quando jogar em afastamento, no fundo, jogar-se em função um(ns) do(s) outro(s). Por ser possibilitador da criação de espaços relaciona-se dessa forma com a Consistência (controlo dos espaços). Em várias interacções isto foi interessante observar. Abordarei principalmente as interacções que envolvem a dupla Morita-Ugarte entre si e as que envolvem Morita (por ser um novo elemento na Dinâmica) com outros jogadores.
Ao pós - Porto e Chaves (e pós Braga) segue-se vitória no Estoril.
Jornalista: - Marcar cedo ajudou...
Rúben Amorim: (...) Gostei mais do jogo na primeira parte com o Chaves. Tivemos mais oportunidades, mas quando se marca olha-se muito para o resultado. Hoje fomos muito consistentes no jogo e marcámos.
Conferência de Imprensa após jogo com Estoril (vitória por 2-0), 2 de Setembro de 2022 (in Jornal A Bola, 03.09)
A 3 de Setembro o Sporting regressa às vitórias após duas derrotas seguidas (Porto e Chaves). Em todos estes 3 jogos o Sporting evidenciou domínio. Foi esse domínio condizente com capacidade de controlo? São duas coisas diferentes.
Sequência (correr slideshow) das conferências de Imprensa (pós Estoril, pré e pós Frankfurt):
Padrões de problemas e padrões de soluções
Creio que essa avaliação se torna mais aferível num jogo de Liga dos Campeões, o contexto de problemas mais aferidor da Consistência das soluções.
Atentemos aos primeiros 60 minutos em Frankfurt.
Na primeira parte tivemos alguns erros na construção (...) Quando estabilizámos mais ... os nossos médios acabaram por ficar com bola. A etapa final foi diferente.
Rúben Amorim (conferência pós Frankfurt, 07.09.22 in Jornal A Bola)
Momento Eintracht Frankfurt (fora)
Tomo a organização posicional Colectiva no momento de construção (olhada sob um ponto de vista Macro) e a alternância do aproximar/afastar como dois dos prismas pelos quais poderemos compreender a Consistência (ainda "verde") nestes primeiros 60 minutos.
Organização posicional no momento de Construção e dinâmica do afastar/aproximar
Do ponto de vista Macro, começo por descrever o que me pareceu uma certa desafinação e que contribuiu, por exemplo, para alguns erros na construção do Sporting (descreverei também no vídeo). Uma dessas situações diz respeito à aproximação desnecessária de um 7º jogador no momento em que a Equipa inicia a construção, levando a que ficassem 7 jogadores, para além do Guarda-Redes, no primeiro terço do campo.
Creio que esta aproximação desnecessária de um 7º jogador, ao retirar espaço e ao atrair pressão para a zona da bola, colocou imensas dificuldades aos defesas. Admitindo que as aproximações entre 6 jogadores são pertinentes (como forma de garantir segurança e apoios próximos) dada a pressão alta 3+3 do Frankfurt, já a forma como um 7º jogador (muitas vezes Morita) se aproximava muitas vezes, sob controlo do adversário, creio que não ajudou, pelo contrário. Faltavam opções longe da bola. No fundo, esta demarcação entre o jogo de aproximações (perto da bola) e o jogo de afastamento é muito dependente, neste caso do 7º jogador.
Relativamente à dinâmica do afastar/aproximar (analisada de um ponto de vista mais micro), também vi uma descoordenação frequente nas interacções entre dois ou três jogadores, sendo usual dois jogadores sem bola a aproximarem-se ou afastarem-se em simultâneo para o mesmo espaço.
Factualmente o Sporting foi mais condicionado do que condicionou. A Consistência revelou-se ainda "um pouco verde".
Devo contudo salientar que estas situações-exemplo devem ser vistas como "pedaços" do Jogo que contêm o Todo-Jogo e não como situações dele isoladas.
Vídeo dos primeiros 60 minutos em Frankfurt:
(se não aparecer em baixo o player com a pré visualização do vídeo abram neste link)
Jornalista: Que desafios o Tottenham lhe coloca que não encontrou em Frankfurt?
Rúben Amorim: Acima de tudo tenho a certeza que se perdermos as mesmas bolas que perdemos com o Eintracht não vão perdoar. Com este tipo de jogadores na frente não podemos cometer esses erros. Temos de manter a nossa forma de jogar, mas se perdermos essas bolas não vão perdoar.
Conferência de Imprensa pré Tottenham (jogo em casa), 13.09.22
Ponte para a segunda parte do artigo
Os pontos-chave lançados nesta primeira parte - a questão da possível descontinuidade da Base de Jogo das duas épocas anteriores e suas repercurssões para a presente; o evidenciar do estado ainda algo verde (exposto principalmente nos primeiros 60 minutos do jogo de Frankfurt) com que a Base de jogo da equipa partiu para esta época; - terão na próxima parte/capítulo a sua continuidade.
Deixo para já a síntese, comentada e sublinhada, das Conferências de Imprensa que serviu de suporte a esta primeira do artigo:
Um Abraço,
(Um especial agradecimento ao Miguel Teixeira da Iscout pela edição dos vídeos de apoio)
Outros artigos que tratam da problemática da Consistência vs Variabilidade:
- Sobre a variabilidade do Padrão do City (eliminatória Sporting - City) Carlos Miguel, 4 de Março de 2021
- Inter de Conte e City de Guardiola. Uma reflexão-convite ao entendimento da Cultura Táctica, Carlos Miguel, 8 de Julho de 2021
- Inter de Conte e City de Guardiola. Uma reflexão-convite ao entendimento da Cultura Táctica (Parte II), Carlos Miguel, 31 de Julho de 2021
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