Defino Iniciativa como uma Atitude, um "espírito"e filosofia de encarar o Jogo.
Uma Equipa com iniciativa joga com alguma desinibição pois faz parte da sua natureza jogar (treinar) com risco, pelo que a consciência do calculismo é algo que existe a ele (risco) sobrecondicionada. As Equipas com iniciativa usam a imprevisibilidade do jogo como aliada e não como algo a evitar. Toda a estética, forma/estrutura e organização emergem a partir de se conviver com o limiar do risco e operar longe-do-equilíbrio, sendo ordem e desordem duas faces da mesma moeda.
Alternância do circular a bola e dos momentos de risco
De nada vale circular e manter a bola, se não for de olhos postos na baliza. Pelo que é preciso o risco. De nada também serve ter os olhos só na baliza sem se perceber que há momentos para acelerar e momentos para gerir o jogo. Também é necessário "calculismo" na gestão do jogo. Mas o jogo só atinge a sua dimensão essencialmente estética se tiver iniciativa com vista a rasgar, progredir, criar desequilíbrios de forma agressiva ("espírito") e marcar golo e reduzir tempo/espaço quando não se tem a bola.
Dinâmica
Na consolidação de uma Dinâmica é fundamental consistência e segurança. Mas a segurança conquista-se na continuidade através da exposição ao risco e no processo a consciência da alternância entre risco e segurança vai-se calibrando, mas sempre mantendo a filosofia.
Treinador
São necessárias uma certa coragem e auto-controlo por parte do Treinador para não querer controlar tudo e com isso deixar de contemplar o risco e deixar de usar o imprevisível (onde ocorre a criatividade) a seu favor.
Entre outras características, ele deve saber escolher o projecto certo para a sua Equipa; fazer um correcto uso de uma constante aferição e calibração do processo, nomeadamente do uso da dicotomia ordem-caos; ser um agregador no convencimento do papel de cada um e, com isso, conseguir que os jogadores se tornem eles próprios líderes.
Sobre as Equipas de expectativa
O futebol de expectativa, por outro lado, sendo demasiado calculista a priori, prefere não correr grandes riscos sob pena de perder o controlo. Mas o futebol é imprevisível e os planos demasiadamente rígidos tantas vezes caem por terra. Quando isso acontece essas mesmas equipas têm de depois de assumir riscos para resolver os problemas para os quais não foram preparadas antes. Pergunto, porque não os contemplar antes, os riscos, na Matriz do seu processo?
liga portuguesa
Não obstante desta reflexão (Equipas com Iniciativa), no caso da Liga Portuguesa, poder ser alargada e integrar outros temas relacionados, enalteço duas equipas que podem exemplificar este objecto central na minha opinião: Vitória S.C. e Famalicão.
Embora com padrões algo diferentes, ambas usam a circulação de bola com procura de desorganizar o adversário, intenção de baliza e sentido de progressão bem presentes, reduzindo constantemente tempo e espaço quando não têm a bola. Nesse sentido denotam agressividade. Não sendo equipas de expectativa são antes Equipas com iniciativa com e sem bola e, com esses dois momentos bem articulados, não se refugiam em estratégias e alternâncias de estratégia em função do adversário ou do resultado e procuram jogar igual empatados, a ganhar ou a perder. Da abordagem do seu jogo como um jogo inteiro, com uma dose equilibrada de ordem e risco, organização colectiva e lado individual, alternância entre temporização e iniciativas para criar desequilíbrios, resulta uma estética com eficiência e eficácia, fruto da forma como o risco é integrado no seu Jogo. Muito mérito dos seus Treinadores com certeza.
Procurarei desenvolver este tema e alguns dos pontos em que toque em publicações seguintes.
Carlos Miguel
Comments